Falamos aqui no Cenas Culturais sobre um tipo de turismo que ainda não tem força no Brasil, mas que em alguns outros países é praticado por milhares de pessoas - o Turismo Cemiterial. Caso não tenha lido a primeira parte da matéria, clique aqui.
Neste texto, procuraremos generalizar as palavras, afinal de acordo com cada crença pessoal, cada ser humano vai para um outro local após a morte (ou até mesmo sua existência por completo se encerra) e a pessoa é composta de corpo físico e um outro corpo "etéreo" (ou só tem o corpo físico). Portanto, nestes momentos adapte o texto a sua crença.
Nesta última parte da matéria iniciada no dia 21 de agosto, falaremos da simbologia que está presente nos túmulos e mausoléus. Símbolos que podem ser vistos a olho nu, e pelos seus significados, não serem completamente compreendidos.
Simbologia é uma ciência que estuda a origem, a interpretação e a criação de símbolos. Estes símbolos são feitos por todas as sociedades desde o aparecimento da raça humana - homens sapiens.
Eles são criados como forma de facilitar a compreensão da realidade. Expressam as crenças, a mitologia, os fatos, as situações, ou seja é uma forma de apropriação do próprio mundo, tanto do que conseguimos explicar e, principalmente, do que ainda não conseguimos.
O homem, desde sua criação (sendo a própria história da criação uma simbologia em forma de mito), tem a necessidade de se ligar com o desconhecido. Afinal precisa encontrar uma resposta para suas perguntas, para o que não sabe.
Para tanto, denominou o desconhecido como sagrado. Reconheceu nele e em suas ações, algo que não pode explicar, que deve ser respeitado e cultuado. Em contrapartida (segundo a lógica das sociedades ocidentais), o que não for sagrado é profano, o que seria a maior parte da vida das pessoas.
Mas há um momento, dentre outros, em que o sagrado e profano se fundem, que é quando a pessoa morre. Quando um indivíduo falece, seu corpo está presente, pode ser visto, era alguém que atuava na sociedade, mas que tem seu "espírito" iniciando uma nova vida em um novo "espaço".
Para preservamos a memória dos nossos entes queridos, enterramos seus corpos para que possam ter uma última morada e fazer com que seus "espíritos" adentrem no "céu".
O cemitério é um local no meio de uma cidade que foi "consagrado" para ser um local sagrado. Onde o tempo e a existência convivem em uma realidade diferente da que acontece fora de seu terreno.
Cada sociedade com sua religião tem seus próprios formatos de velar e enterrar seus mortos. A católica sugere que o corpo seja velado (a chama, a luz - facilitar o caminho do "espírito" para uma outra "dimensão") e depois seja enterrado até a época da ressurreição.
Mas quem fica, ainda é humano e dependendo do "esclarecimento do conhecimento" fará com que as sepulturas reflitam a vida na Terra.
Portanto percebe-se (analisamos os cemitérios da Consolação e do Araçá):
a) Quando ainda se enterravam as pessoas nas igrejas, quanto mais próximo ao altar, mais perto de Deus aquela alma estaria e mais cedo chegaria aos portões do Paraíso. Portanto, quem tinha mais posse era enterrado mais perto do altar.
b) Os túmulos apresentam pompa e requinte não só para dignificar quem estava enterrado, mas principalmente para mostrar as posses e a importância daquela família. Por isso, muitos escultores famosos eram contratados para fazer as esculturas que ornavam os jazigos.
c) Há uma divisão de classes no cemitério - mais próximo da capela e da entrada principal era destinado às famílias mais ricas. No cemitério do Araçá percebe-se bem, pois há uma descida no terreno - na parte superior, quem tinha posse; na inferior, quem não tinha.
Os túmulos e mausoléus são os lugares de descanso para os corpos enquanto esperam a ressurreição na segunda vinda de Jesus Cristo (estamos falando de cemitérios católicos). Alguns são simples, apenas uma construção no formato retangular, com uma placa com o nome e data de nascimento e falecimento.
Outros apresentam esculturas, decorações e ornamentos. Já falamos que também tinham o significado da ostentação. Mas a decoração tem uma simbologia, que transmite uma mensagem, só que nós muitas vezes só conseguimos ver o objeto e não o seu significado.
Portanto vamos falar de alguns símbolos presentes nos cemitérios, que facilitará sua melhor compreensão quando for visitar um parente ou for conhecer um.
a) Portal - Tem como significado a porta de passagem da vida terrena para a vida espiritual. Pode ser um arco, uma porta, um portal. Pode ser só o portal, ou ter a figura de Jesus Cristo, um anjo ou Nossa Senhora.
b) Coluna Partida - A coluna representa a totalidade da vida de uma pessoa, a ligação entre a terra e o céu. Mas se ela está quebrada, significa que a vida foi interrompida prematuramente, ou que seus amigos e familiares achavam que deveria viver por mais tempo. Pode ser também a morte do último membro de uma família.
c) Tocha - simboliza a vida, a iluminação. Se no túmulo está voltada para baixo, simboliza a morte; se para cima, a vida, a iluminação.
d) Guirlanda - É o triunfo da vida sobre a morte; que a pessoa obteve sucesso na vida. Tem origem na civilização grega que premiava com a coroa de louro os vencedores.
e) Caveira - Representa o final do ciclo da vida; que nossa vida é breve, tem um começo e fim.
f) Coruja - Símbolo da vigilância, da meditação e da capacidade de enxergar nas trevas.
g) Pelicano - É o símbolo da Eucaristia. O pássaro quando não tinha comida para alimentar seus filhotes, bicava seu próprio peito e oferecia sua própria carne e sangue. Também está presente na simbologia maçônica.
h) Alfa e Ômega - Símbolo do início e do fim. Somos efêmeros enquanto pessoas.
i) Rosto com olho aberto e outra com olho fechado - significa a vida e a morte, ou seja, que a vida tem um começo e um fim.
j) Anjo voando com a pessoa - Anjo voando representa a ressurreição. Está levando a alma da pessoa aos céus.
k) Também podemos encontrar nos túmulos, figuras que remetam à profissão que a pessoa tinha; a forma de como ela morreu; ou a trilogia defendida pela igreja - Religião, Família e Trabalho.
Considere a oportunidade de conhecer um cemitério. Apesar da simbologia que tem de ser um lugar de despedida e partida, veja-o com outros olhos. É um ambiente que pode ser considerado como um museu a céu aberto, com muitas mensagens que vão além da representação.
(Para fazer esta matéria foram consultados vários textos e vários autores. Não sou especialista em história das religiões, mas uma pessoa interessada pelo assunto. Portanto, caso queira um maior aprofundamento, sugiro para início o autor romeno, naturalizado norte-americano, Mircea Eliade. Mircea foi professor, historiador das religiões, mitólogo, filósofo e romancista. Considerado um dos fundadores do moderno estudo da história das religiões e da mitologia. Escreveu entre outros, "O Sagrado e o Profano: A Natureza da Religião", "Imagens e Símbolos: Estudos sobre o Simbolismo da Religião" e "Mitos, Sonhos e Mistérios: O Encontro entre a Fé Contemporânea e as Realidades Arcaicas").
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