Cenas Culturais

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quinta-feira, 17 de abril de 2014

Ocupação Zuzu - Vá antes que a censura proíba



Amor é fogo que arde sem se ver
(Luiz Vaz de Camões)

"Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente; 
é um contentamento descontente, 
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer; 
é um andar solitário entre a gente; 
é nunca contentar-se de contente; 
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade; 
é servir a quem vence, o vencedor; 
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade, 
se tão contrário a si é o mesmo Amor?" 

"...É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte!..." (Divino Maravilhoso - Caetano Veloso e Gilberto Gil)

     Se você viveu a década de 1960, entendeu o começo desta postagem. Se não, procure saber mais sobre o que o país enfrentou por 20 anos, e que, infelizmente, em 2014 comemora-se 50 anos. Durante este período, a liberdade, inclusive a de imprensa foi cassada. Com isso, onde era para ter notícias nos jornais, que iam contra o pensamento do governo, e por consequência eram proibidas, colocavam-se nos seus lugares, receitas de bolo ou poemas.

     Entre 1964 e 1985, o Brasil viveu um período nebuloso. Os militares fizeram a "Revolução de 1964" ou "Contrarrevolução de 1964". Mas para grande parte da população foi mesmo um período de golpe ou ditadura. Só que não foi um ato exclusivo dos militares,  pois uma parte da sociedade apoiou este regime de governo.

     Durante este tempo, se você era contra o governo, você era de esquerda. Muita gente foi interrogada pela polícia militar e conheceram os porões da ditadura.  Só que de lá, alguns nunca mais voltaram.

     É nesse período que surge a estilista Zuleika Angel Jones, ou mais conhecida no mundo da moda, Zuzu Anngel. Mineira da cidade de Curvelo, revolucionou a moda brasileira, desenvolvendo novos tecidos e incorporando temas regionais e nacionais nas peças de roupa que criou para a alta sociedade brasileira.
  
     Mas no auge do seu sucesso, não só nacional, como também internacional, Zuzu teve seu filho, Stuart Angel Jones, militante de esquerda preso. Levado, aos 25 anos, para o Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (CISA), foi torturado e morto em 1971. Só que seu corpo nunca apareceu, nem os militares confirmaram o assassinato.

     Com isso, a estilista começou a falar sobre o que estava acontecendo no Brasil. Fez um desfile-protesto no consulado brasileiro de Nova Iorque (Estados Unidos), onde as roupas apresentavam anjos feridos e amordaçados (o anjo, por causa de seu sobrenome, era seu símbolo, presente em várias peças criadas). Também envolveu artistas e políticos, nacionais e estrangeiros, na sua luta.



     Acabou incomodando os militares Virou persona non grata no país. Como consequência de seus atos, ela morreu em um acidente de carro suspeito, no dia 14 de abril de 1976. Os militares disseram que Zuzu dormiu no volante do carro. Mas depois foi confirmado Que a eestilista tinha sido assassinada.

     Zuzu foi homenageada de várias formas - livros, música e filme. Uma semana antes de morrer, enviou uma carta para Chico Buarque, contendo um documento que deveria ser ser publicado caso algo lhe acontecesse. Nele, a estilista dizia que "Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho". Chico lhe dedicou a música "Angélica". Em 2006, foi lançado o filme "Zuzu Angel", dirigido por Sérgio Rezende.

     E agora, quando se comemora os 50 anos da ditadura, o Itaú Cultural realiza a exposição "Ocupação Zuzu Angel". Em quatro andares, estão expostas mais de 400 peças que contam a vida da estilista. Além da mostra, tem performances, ciclo de cinema e palestras com estilistas. Entre as performances, temos atrizes que circulam pelos andares da exposição, vestindo modelitos de Zuzu, e representando trechos do livro "Minha Maneira de Morrer".

     Ao entrar na eexposição,  no andar térreo,  há uma instalação,  com a apresentação de dois filmes. Um deles é a última entrevista dada por Zuzu ao jornal Hoje, no dia de sua morte.

     Subindo ao pprimeiro andar, você vê a Zuzu estilista,  antes da morte de Stuart Angel.  É um ambiente claro,  colorido,  com fotos de suas obras, vestidos feitos por ela, uma represe de seu ateliê.  Vê-se também o anjo que era matca de sua obra.


     Não percam a exposição, pois além de conhecer melhor os trabalhos da estilista, também verão a luta que uma mulher e mãe fez para só poder "...embalar meu filho, que mora na escuridão do mar."

Ocupação Zuzu Angel
Itaú Cultural
Até 11 de maio.
Terça a Sexta - 9h as 20h; sábado, domingo e feriado - 11h as 20h.
Gratuito.


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