Cenas Culturais

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sexta-feira, 4 de abril de 2014

Ismália, a estrela do mar.


"Ismália"
(Alphonsus de Guimaraens)

"Quando Ismália enloqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu, 
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar.

E no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar.

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar.

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar."

     Ando bastante de ônibus e metrô por São Paulo. Atualmente, não tenho carro. Quando preciso, pego emprestado o da minha irmã ou dos meus pais. Mas basicamente, ando a pé. Para cima e para baixo. De um lado para outro. Pela Sé, Paulista, Barra Funda, Itaim,...

     Muitas vezes ando apressado. Sem ter tempo nem de olhar para os lados (Se já me chamaram na rua e não respondi, desculpe. Tenho problema de visão e acho que tem conexão com a audição). 

     Outras vezes ando calmamente. Olhando para tudo e para o nada. Vendo tanto coisas novas e bonitas, como velhas e tristes.

     Duas vezes por semana, pego meu metrô na Barra Funda, faço baldeação na Sé e vou até o Paraíso. Ao sair do vagão, subo por uma escada rolante, que passa ao lado de um painel que tem um poema. Ismália. De Alphonsus de Guimaraens (assim mesmo, um poeta mineiro, nascido no século XIX que transitava entre o Romantismo e o Simbolismo).

     A subida dura pouco. Mas este pouco, dá para ler linhas deste poema. Poema este, que me traz a mente um outro poema. Estrela do Mar, de Paulo Soledade e Marino Pinto. Mais recente. 1952.

"Estrela do Mar"
(Paulo Soledade e Marino Pinto)

"Um pequenino grão de areia
Que era um pobre sonhador
Olhando o céu viu uma estrela
E imaginou coisas de amor

Passaram anos, muitos anos
Ela no céu e ele no mar
Dizem que nunca o pobrezinho
Pode com ela encontrar

Se houve ou se não houve
Alguma coisa entre eles dois
Ninguém soube até hoje explicar
O que há de verdade
É que depois, muito depois
Apareceu a estrela do mar".

     São dois personagens, que por motivos distintos e particulares, transitam entre suas realidades e seus sonhos. Não contentes com suas existências, ambicionam o que está, a princípio, inalcançável. Mas que no final, de alguma forma, conseguem o que esperavam.

     Infelizmente, por uma série de fatores, o brasileiro lê pouco. Há algumas ações, tentativas, para que o conhecimento seja compartilhado. Temos o BookCrossing Brasil, o Esqueça um Livro, o espaço Embarque na Leitura (na mesma estação Paraíso do metrô), o site Le Livros, entre outros.

     Temos também, um mural na saída da estação de metrô Santa Cecília, com trechos de poemas  e textos de vários autores brasileiros, dos mais variados períodos da literatura.

     Portanto, na sua próxima viagem pelo metrô paulistano, abra bem os olhos. Além da poesia que acontece no vagão, pelas suas janelas e pelos corredores da estação, você também pode encontrá-la em algum mural. E com certeza, fará seu dia mais feliz!

P.S. Abaixo, coloquei o vídeo "Estrela do Mar", cantado por uma das maiores cantoras/declamadoras brasileira, viva, de poesia, Maria Bethânia.








2 comentários:

  1. Rô sempre cantei a música Estrela do Mar. Já funcionou como cantiga de ninar para minhas filhas e netas. Linda!

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    1. Também acho muito linda. Ainda mais, quando ouço na voz de Bethânia. Abraços

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