Cenas Culturais

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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Turismo Cemiterial - uma aula de história e simbologia (1/2)

   

     Você já visitou um cemitério? Por que não? O que leva a uma grande parte das pessoas de "temer" entrar em um? Afinal, é para ser a nossa última morada. Lógico, dependendo de qual for o seu credo. Será que foi influência dos filmes e literatura de terror, ou por causa mesmo da nossa religião?

     Mas saiba que existem pessoas (não as góticas, nem as que tem algum tipo de deficiência mental) que vão a cemitérios para realizar o Turismo Cemiterial. Este tipo de turismo tem como foco principal a exploração do patrimônio histórico-cultural do lugar, bem como visitar túmulos e mausoléus de pessoas conhecidas ou "santas".

     Na cidade de Paris, capital da França, fica o mais famoso e visitado cemitério do mundo, o Pére Lachaise. Ele recebe cerca de 2 milhões de visitantes por ano. São pessoas - turistas como você e eu - de várias nacionalidades que o visitam para ver os túmulos de personalidades como Balzac, Proust, Oscar Wilde, Champolion, Gilbert Bécaud, Maria Callas, Jim Morrison, Edith Piaf, Moliére, entre outros.


     Próximo a nós, na capital da Argentina, Buenos Aires, temos o Cemitério da Recoleta. Milhares de visitantes por ano são atraídos pelos seus inúmeros monumentos e esculturas, bem como pelos túmulos de Evita Perón e outras personalidades nacionais.


     Ambos cemitérios tem visitas guiadas. Além destes podemos citar outros cemitérios famosos, que também são bem visitados, como os de Montparnasse (Paris - França); Alto de São João (Lisboa - Portugal); Highgate, West Norwood e Brookwood (Londres - Inglaterra).

     Em São Paulo, ainda não temos difundido o Turismo Cemiterial. Há alguns grupos que realizam visitas guiadas aos principais cemitérios da cidade. O Cenas Culturais realizou visitas aos Cemitérios da Consolação e do Araçá, que foram realizadas pelo grupo "São Paulo Antiga" e pelo grupo do Facebook "Memórias Paulistanas". O Serviço Funerário do Município de São Paulo (SFMSP) também realiza visitas guiadas no Cemitério da Consolação.

Construção dos Cemitérios

     Os cemitérios surgiram como resposta a antiga tradição de enterrar os mortos dentro das igrejas, ou no seu entorno. Isto porque aquele solo era sagrado e com isso as almas iriam diretamente aos céus. Quem não fosse católico, teria seu corpo enterrado fora da área da igreja.

     E naquele tempo, até na morte havia a separação de classes. Quão mais próximo do altar, mais caro o sepultamento.

     Isso também foi um dos motivos para que a cidade de São Paulo tivesse tantas igrejas. Além do que, as pessoas frequentavam as igrejas (e davam seus dízimos) de seus santos de devoção. O tamanho de uma cidade também poderia ser medido pelo número de igrejas que ela tinha. Salvador, capital da Bahia, goza de ter cerca de 360 igrejas, uma para cada dia do ano.

     Mas o hábito de enterrar os mortos debaixo do piso da igreja provocava doenças (um dos motivos da Peste Negra na Europa), além dos corpos em decomposição exalarem um mau odor.

     Com isso, os médicos sanitaristas paulistas a fim de garantir a salubridade e evitar epidemias puseram fim a este hábito no meio do século dezenove. Para tanto precisaram criar o primeiro cemitério público municipal, que recebeu este mesmo nome e depois teve seu nome trocado para Cemitério da Consolação.

     Obs: O 1o cemitério que a cidade teve foi o Cemitério dos Aflitos, que ficava no bairro da Liberdade, de 1775. Mas como era administrado pela Igreja Católica, não era público. Funcionou até a inauguração do cemitério da Consolação.

Cemitério da Consolação (álbum de fotos)

     O cemitério foi fundado em 15 de agosto de 1858. Ele foi construído "afastado" da cidade, já que São Paulo estava concentrada na região do triângulo histórico (região compreendida entre os Largos de São Francisco, São Bento e da Sé), incluindo a região da Luz e dos Campos Elíseos.

     O local também foi escolhido por médicos e engenheiros porque era numa região alta, a direção dos vento, a qualidade do solo, além da distância da cidade.

     O terreno era uma parte de domínio público e outra de propriedade de Marciano Pires de Oliveira, que vendeu-o para a Câmara Municipal. Domitila de Castro Canto e Melo, Marquesa de Santos, doou uma verba para a construção da capela do cemitério.


     O cemitério da Consolação foi o único de São Paulo até o ano de 1893, quando foi aberto o cemitério do Brás ou da "4a Parada" (leva este nome porque era a 4a parada da estação de trem que ia do Brás para o município de Cachoeira Paulista), e em 1897 foi inaugurado o cemitério do Araçá.

     Nos primeiros anos eram enterradas pessoas de todas as classes sociais, inclusive os escravos (transferidos do cemitério dos Aflitos). Até que no século vinte, o cemitério passa a receber quase que exclusivamente pessoas da classe média alta e da burguesia.

     Com isso, começam a surgir os mausoléus de bronze e mármore, com estátuas de escultores como Victor Brecheret, Nicola Rollo, Luigi Brizzolara, entre outros. É o que chamamos de arte tumular. Dava status ter um mausoléu sofisticado e bem ornamentado.


     O de maior destaque no cemitério da Consolação é o da família Matarazzo. É o maior da América Latina, que tem uma altura de 25 metros, o equivalente a um prédio de 3 andares. Sua área é de 150 metros quadrados, e dizem os cronistas da época, que custou o mesmo que o Hospital Umberto I.

     No cemitério podemos ver basicamente o quem foi quem do século vinte. Estão enterrados a Marquesa de Santos, presidente Campos Sales, Antonio da Silva Prado, Monteiro Lobato, Caetano de Campos, Caio Prado Júnior, Cândido Fontoura, Francesco Matarazzo, Júlio de Mesquita, Líbero Badaró, Mario de Andrade, Batuíra, Pérola Byington, Ramos de Azevedo, entre outros.

     Quer visitar o cemitério por conta própria. Saiba que para poder tirar foto dos túmulos e mausoléus, tem que pedir autorização nas administrações dos cemitérios. Ou realizar um visita guiada. Seguem os dois guias feitos pela Prefeitura de São Paulo sobre o Cemitério da Consolação (guia e mapa)

Cemitério do Araçá (álbum de fotos)

     Para poder atender às famílias, pois os cemitérios da Consolação e da 4a Parada já estavam ficando sem espaço, foi aberto em 1897 o cemitério do Araçá.


      Também estão enterradas na sua área, membros de famílias ricas e tradicionais de São Paulo. Mas aqui como o terreno era maior, a distinção de classes fica mais evidente. No alto, próximo a entrada e a capela, estão os jazigos e mausoléus de famílias mais abastadas. Na parte baixa do cemitério, e mais longe do acesso de entrada, estão sepultados as famílias de classes sociais mais simples.

     A arte tumular presente neste cemitério também enche os olhos de quem o visita. São construções feitas também por escultores de renome.


     No Araçá estão enterrados Assis Chateaubriand, Cacilda Becker, Francisca Júlia, José Carlos Pace, José Cutrale Júnior, Primo Carbonari, Plínio de Arruda Sampaio, entre outros.

     Curiosidade - Neste cemitério teve uma estátua que se moveu e foi parar em outro lugar. Explicamos. No túmulo da poetisa Francisca Júlia foi construída uma estátua, que levou o nome de um de seus poemas, "Musa Impassível". A construção ficou a cargo do escultor Victor Brecheret. Por causa da ação do tempo e do clima, a estátua estava se deteriorando. Então para preservar a obra, retirou-se a original do túmulo da poetisa e colocou-se uma réplica. A original pode ser vista na Pinacoteca de São Paulo. Quer saber mais da história de Francisca Júlia e da Musa Impassível, leia aqui na matéria da historiadora Glaucia Garcia.


     Como deu para perceber, os cemitérios são muito mais do que simplesmente a última morada dos corpos dos nossos entes queridos. É um lugar, que respeitosamente, pode servir como um ponto turístico a mais tanto para os visitantes, quanto para os próprios moradores da cidade, conhecerem mais sobre sua história, além de poderem observar obras de arte.

     Em uma próxima matéria, falaremos sobre a simbologia presente nas esculturas e mausoléus dos cemitérios. Não perca!

2 comentários:

  1. participei da primeira edição do passeio no cemitério da Consolação juntamente com São Paulo Antiga e não podia imaginar q havia tantas obras de arte em um cemitério...foi muito legal e interessante...uma aula de história

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  2. Achei bem interessante!
    eu como guia de turismo tenho que me ligar mais nessas infs!
    muito obrigado!

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