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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Alô, alô, "Caros Ouvintes" está no ar

   
   
     Quem matou Odete Roitmann? Quem foi a próxima vítima? O que havia na caixa que Perpétua tanto guardava com cuidado em cima de seu armário? 

     Estas e tantas outras perguntas são respondidas nos últimos capítulos das novelas. Algo que atrai a atenção dos telespectadores desde a década de 60. Mesmo com todos os canais fechados e variedade de programas, as telenovelas ainda atraem uma boa faixa do público nacional.

     Mas esta predileção já é algo que vem desde as primeiras radionovelas brasileiras. A radionovela é uma narrativa sonora de uma história, de um folhetim, que era contada em capítulos. Foi adaptada dos palcos do teatro para os estúdios do rádio.

     Só que as histórias tinham que ser contadas em detalhes, pois o público só tinha a audição para "visualizar" a narração. Com isso, as radionovelas tinham, além de seus atores, os sonoplastas. Estes faziam a sonorização do que ia acontecendo na história, para permitir uma melhor compreensão dos ouvintes.

     Infelizmente, os custos das radionovelas eram muito alto. Também na década de 60, a televisão fazia seu último e decisivo avanço nos meios de comunicação. Com isso, os patrocinadores dos programas de rádio migraram para a televisão. 

     Uma boa parte dos autores, técnicos e atores saíram das rádios e foram para a televisão. Entre eles, temos os autores Oduvaldo Vianna, Dias Gomes, Janete Clair e Ivani Ribeiro; e os atores Paulo Gracindo, Geórgia Gomide, Laura Cardoso, Lima Duarte, Chico Anisio, Paulo Goulart, entre outros.

     A peça "Caros Ouvintes" mostra esta transição da rádio para a televisão. Estreou neste sábado, 16 de agosto, no teatro do MASP (SP). 


     A história, é uma comédia, que narra o último episódio do folhetim "Espelhos da Paixão". Estão presentes os atores, o produtor da rádio, o sonoplasta, a cantora e o patrocinador. A peça é situada na década de 60, após o golpe militar brasileiro.

      Os atores estão inseguros pois a televisão está levando os artistas das rádios. Não se sabe se terá mais rádionovela. Além do mais, a atriz que faz as mocinhas aceitou trabalhar para a televisão. 

      No meio disso tudo, a questão do comunismo ronda o ar. Durante o período que antecede o AI5, muitos colegas de trabalho foram entregues para os militares por não compactuarem com o sistema de governo vigente.

     "Caros Ouvintes" é uma excelente opção para quem viveu e quem não viveu a época de ouro da rádio brasileira. O cenário reproduz o interior de uma estação de rádio, com o estúdio, a sala do sonoplasta e a sala do discotecário. A decoração e os figurinos retratam muito bem o período.

     Apesar de tocar no problema da ditadura, é uma comédia que provoca muitas gargalhadas. Não se sente a história passar. Quando termina, fica com um gosto de quero mais.

     Todos os atores estão muito bem nos papéis. A escolha do elenco foi mais que acertada. E o interessante, é que eles fazem a "transição inversa". São todos atores que já vimos em telenovelas de emissoras nacionais que estão fazendo uma radionovela.


     Não deixe de pegar o programa da peça. Foi feito como se fosse uma revista da época, com propagandas, fotonovela, dicas culinárias, "fuxico da Candinha". Foi feita com um capricho ímpar. É um item para se guardar.
      Não deixe de assistir "Caros Ouvintes". A peça é uma excelente opção para além de dar umas boas risadas, poder conhecer como foi o período da era de ouro das rádios brasileiras.     

Curiosidades:

      A primeira transmissão de rádio no Brasil foi em 7 de setembro de 1922, durante a inauguração da Exposição do Centenário da Independência. Ouviu-se o discurso do presidente Epitácio Pessoa e a transmissão da obra "O Guarani", do maestro Carlos Gomes.

     A era de ouro da rádio foi durante as décadas de 40 e 50, quando milhares de ouvintes ligavam seus rádios e ouviam as notícias do Brasil e do Mundo; cantores como Cauby Peixoto, Marlene, Emilinha; as marchinhas que fariam sucesso nos bailes de carnaval; e é claro, as radionovelas.

     O maior fenômeno de audiência das radionovelas brasileiras foi "O Direito de Nascer". O texto original era de um escritor cubano. Ficou no ar por três anos e depois foi também um sucesso na televisão brasileira.

Caros Ouvintes
Grande Auditório MASP
Até 14/12 (sexta, 18h e 21h; sábado, 21h; domingo, 19h30)
Duração 90 minutos
Com  Agnes Zuliani, Alex Gruli, Alexandre Slaviero, Amanda Acosta, Eduardo Semerjian, Natállia Rodrigues, Petrônio Gontijo e Rodrigo Lopez



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