Cenas Culturais

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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Exagerado - Cazuza de volta aos palcos desta vida louca vida


     Cazuza chegou finalmente em São Paulo após uma turnê no país de cerca de nove meses. Foi quase um parto, mas no dia 18 de julho - "Cazuza - Pro Dia Nascer Feliz, o Musical" estreou no palco do teatro Procópio Ferreira. Não por acaso, o teatro foi o lar da biografia musical de outro cantor expoente da música popular brasileira, Tim Maia.

     Acredita em coincidência? O Cenas Culturais acredita em competência. Ambas as peças foram dirigidas por João Fonseca. O diretor já amealha sucessos como "Cyrano de Bergerac", "R&J de Shakespeare" e "Gota d'Água".

     Uma das peças mais aguardadas para este ano, "Cazuza - Pro Dia Nascer Feliz, o Musical" retrata a vida do cantor Cazuza a partir das lembranças de sua mãe, Lucinha Araújo, tão bem representada pela atriz Susana Ribeiro.


"Só um pouquinho de proteção ao maior abandonado"
   
     Agenor de Miranda Araújo Neto é filho de João Araújo, que foi produtor fonográfico, e de Lucinha Araújo. Seu nome homenageava seu avô paterno, mas antes mesmo de nascer, seu pai já o chamava de Cazuza, que significa um vespídeo solitário de ferroada dolorosa. Cazuza só ficou contente com seu nome de batismo quando soube que o seu ídolo Cartola também chamava-se Agenor.

     Por causa do trabalho do pai, Cazuza sempre esteve em contato com representantes da música popular brasileira, mas tinha preferências por cantores dramáticos e melancólicos, como Cartola, Dalva de Oliveira, Maysa, Noel Rosa e Dolores Duran. Mas a maior cantora brasileira "viva" para ele era sua mãe, que chegou a gravar três discos.



"Pro dia nascer feliz"

     E o dia nasceu. Cazuza conheceu o também cantor Ney Matogrosso e namoraram por um período. E foi através de Ney, que o grande público ouviu falar de Cazuza. Até então, Cazuza fazia parte do grupo Barão Vermelho, que só era aclamado pela crítica, mas não pelo público. 

     Ney resolveu gravar a música de Cazuza, "Pro Dia Nascer Feliz". E a partir de então, o Brasil conheceu Cazuza e o Barão Vermelho. O grupo fez a música tema do filme "Bete Balanço"; participou da primeira edição do Rock in Rio; fez shows no  país inteiro.


"O tempo não para"

     Mas Cazuza, durante as gravações do quarto álbum com o Barão Vermelho, decidiu sair do grupo e começar uma carreira solo. Com isso, poderia ser livre para compor e se expressar nas músicas que escrevia.

     Só que já nesse período a sombra da AIDS o perseguia. Começaram a aparecer indícios da doença em 1985. Resolveu fazer os testes e os resultados foram negativos. Lançou seus dois primeiros discos solo. 

     Até que em 1987, a AIDS "o tocou". Seus pais o levaram para a cidade de Boston, nos Estados Unidos, para começar a receber os tratamentos com o novo medicamento que surgia, o AZT. Foram várias internações, várias viagens entre o Brasil e os Estados Unidos. Mas em nenhum momento falou de sua situação para a mídia ou para o público.

     Durante este período, sua veia criativa não parou. Escreveu canções; lançou discos; fez shows; recebeu o prêmio Sharp. Lançou o seu maior sucesso comercial "O Tempo Não Para", que teve venda de cerca de 500 mil cópias (numa época que não existia disco pirata, nem download gratuito na internet).

"Brasil mostra sua cara"

      Em 1989, Cazuza mostrou a sua cara para o Brasil. Deu uma entrevista para a revista "Veja", que o colocou como capa da edição, onde ele dizia que era portador do vírus HIV. Com sua atitude, ajudou a criar uma consciência em relação à doença e aos seus efeitos.

     Como os estudos estavam começando, os remédios ainda não proporcionavam aos soropositivos uma boa qualidade de vida. Cazuza emagreceu, seus cabelos ficaram ralos e precisava ser transportado em cadeira de rodas. 

Só as mães são felizes

     Cazuza faleceu no dia 7 de julho de 1990. Após sua morte, no mesmo ano, Lucinha Araújo fundou a "Sociedade Viva Cazuza". A Sociedade tem o objetivo de proporcionar uma vida melhor à crianças e adolescentes soropositivas através de assistência à saúde, lazer e educação. E oferecendo principalmente o Amor.

"Vida louca, vida... vida breve"

     Infelizmente, como grandes poetas, músicos e atores, Cazuza viveu demais em pouco tempo. Parece que sabia que ficaria por um curto espaço de tempo no planeta. Amou demais, bebeu demais, usou drogas demais, ou seja, viveu demais.

     Nesta vida breve, Cazuza gravou 126 músicas, deixou 78 inéditas e deu 34 para outros intérpretes.

"Exagerado, eu sou mesmo exagerado"

     É a vida deste poeta e cantor brasileiro que a peça "Cazuza - Pro Dia Nascer Feliz, o Musical" retrata nos palcos. Muitos amores, muitos porres, muita produção musical, muita vida para apenas 150 minutos. Mas conseguem contar, cantar e emocionar a toda a platéia com a vida de Cazuza.

     Lucinha e João Araújo aprovaram a escolha do ator que viria interpretar seu filho no teatro. E não foram os únicos. Quando Emílio Dantas, que interpreta Caju (como seus amigos o chamavam), começou a apresentação de um dos últimos ensaios, Ney Matogrosso e Serginho Maciel, ambos ex-namorados de Cazuza, se emocionaram e vieram às lágrimas.

     O cenário é clean, com quatro plataformas, que são as folhas de papel que receberam todas as letras de música escritas por Cazuza. Na parte superior do palco, nas suas três paredes, tem telas onde são projetadas imagens durante as apresentações musicais.


     A escolha do elenco foi acertada. Não dá para falar de um e esquecer de outro. Estão no palco Cazuza e sua trupe - Barão Vermelho, Ney Matogrosso, Bebel Gilberto, Caetano Veloso, Serginho Maciel, Lucinha e João Araújo e Ezequiel Neves, o produtor musical que descobriu Cazuza e o Barão Vermelho. Ezequiel, com toda sua alegria peculiar, interpretado por André Dias, é um sopro de alegria, mesmo nas cenas mais tristes da peça.

     Não perca a peça "Cazuza - Pro Dia Nascer Feliz, o Musical". É uma peça engraçada, cativante e emocionante. Levem os lenços, porque o segundo ato leva a platéia às lágrimas. Com certeza, a peça terá fôlego para ficar por mais uns bons dois anos em cartaz, transitando entre o eixo Rio e São Paulo e excursionando por outras cidades brasileiras.

     Vai Cazuza, viva sempre na lembrança dos brasileiros, a sua "vida louca vida".


Agradecimento: O vídeo do youtube sobre a peça é do site Cena Musical.

Cazuza, Pro Dia Nascer Feliz, o Musical
Teatro Procópio Ferreira 
Até 26/10 (quinta e sexta, 21h; sábado, 17h30 e 21h30; domingo, 18h)
Duração 150 minutos
Com Emílio Dantas, Susana Ribeiro, André Dias, Marcelo Várzea, Thiago Machado, Bruno Narchi, Osmar Silveira, Diego Montez, Saulo Segreto, Dezo Mota, Fabiano Medeiros, Oscar Fabião, Igor Miranda Alves, Brenda Nadler, Carol Dezani, Sheila Matos e Gabriel Malo.

2 comentários:

  1. Gostaria de saber o valor?

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  2. Os ingressos estão entre R$ 50,00 a R$ 180,00. Podem ser adquiridos na bilheteria do teatro ou pelo site Ingresso Rápido.

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